Viagra pode ser usado para combater a malária

Viagra pode ser usado para combater a malária

Cientistas descobriram que o viagra pode ser usado também para combater a malária, uma doença que mata milhões de pessoas.

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combater a malária o masculino
Descoberta pode ser uma ótima notícia no combate à malária. Foto: Shutterstock

Um estudo científico publicado na revista PLoS Pathogens aponta o Viagra como um potencial aliado para combater a malária. Mundialmente conhecido no tratamento contra a impotência sexual, o medicamento pode desempenhar um papel importante para frear o complexo desenvolvimento do parasita plasmodium falciparum, responsável pela malária.

A complexidade no combate à doença está no fato de que o ciclo do parasita se dá uma parte no interior do corpo humano e outra no mosquito Anopheles, lembrando que somente a fêmea pode transmitir a malária. Alguns medicamentos podem tratar os sintomas, mas ainda é preciso encontrar algo que possa erradicá-lo completamente. Isto somente seria possível bloqueando a transmissão do parasita entre o seu reservatório de “incubação”, o homem infectado, e o mosquito, que é responsável por morder seu portador e espalhar a doença entre as pessoas.

No corpo do ser humano, o parasita vai se apoderar de células vermelhas do sangue (glóbulos), logo após serem produzidas, ainda na medula óssea, uma fase que dura cerca de dez dias. Após este desenvolvimento, o parasita ganha a capacidade de se deformar e tornar-se mais maleável, ação que possui duas funções: em primeiro lugar, permite que ele consiga sair da medula óssea para circular no sangue. A outra função é possibilitar que a célula com o parasita passe entre as fendas localizadas no baço, que possuem a função de filtrar o sangue. Assim o parasita se torna acessível também ao mosquito vetor.

Viagra para combater a malária

A equipe do pesquisador do Instituto Cochin, de Inserm e do CNRS, que conta também com cientistas da Universidade Paris-Descartes, o Instituto Pasteur e da Escola de Medicina e Higiene Tropical de Londres, pesquisavam quais são os mecanismos moleculares que levam o parasita das células sanguíneas a adquirir esta deformidade. O objetivo era mesmo encontrar algo que pudesse impedir esta transformação para que o próprio corpo se encarregue de bloquear e expulsar os glóbulos vermelhos infectados.

Eles descobriram que esta maleabilidade acontece em função do que os biólogos chamam de “vias de sinalização”, que são uma sequência de reações moleculares internos da própria célula. Utilizando um modelo in vitro que reproduzia a filtragem do baço, os cientistas conseguiram identificar substâncias que permitam interromper estas reações, eliminando a capacidade de transformação da célula com o parasita. Assim, elas já não passariam mais no filtro do baço, sendo eliminadas em seguida. “Observamos, quase por acaso, que uma dessas substâncias é o citrato de sildenafil, que é bem mais conhecido pelo seu nome comercial Viagra”, explica a cientista Catherine Lavazec.

Mudando paradigmas

Hans-Peter Beck, que é professor de parasitologia do Instituto Tropical Suíço e Saúde Pública em Basileia (um dos centros mundiais de referência em pesquisa sobre a malária), considerou a descoberta muito interessante. Ele afirma que já havia o conhecimento a alguns anos de que o Viagra poderia influenciar parcialmente as enzimas fosfodiesterase (responsáveis pelas alterações), mas que não sabiam desta função das enzimas no desenvolvimento da doença. “É uma mudança de paradigma, que nos leva para além do simples tratamento farmacológico dos sintomas da malária, nos dando uma nova área para estudar, testando o uso de medicamentos também para interromper a transmissão do parasita da malária”, destacou.

É preciso lembrar que os estudos estão ainda no início e que não é possível saber ao certo ainda se o Viagra será mesmo utilizado ou não para tratar a doença. “Este é um primeiro estudo in vitro, uma prova de conceito. Queremos realizar um estudo em seres humanos, mas o seu início não ocorrerá em menos de um ano”, afirma Catherine Lavazec.

A malária no mundo

Segundo as últimas estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) de Dezembro de 2014, apenas em 2013 foram registrados entre 124 milhões e 283 milhões de casos de malária em todo o mundo. Estas podem ter causado a morte de 584 mil pessoas (considerando uma margem de incerteza entre 367 mil e 755 mil). A maioria das mortes ocorre em crianças menores de 5 anos que vivem na África, onde a cada minuto um deles morre de malária.