Descoberto o ‘calendário químico’ do corpo que marca estações do ano

Descoberto o ‘calendário químico’ do corpo que marca estações do ano

Entenda como algumas células do corpo trabalham como um relógio químico e mudam de acordo com as estações do ano, passando para o modo "inverno" ou "verão".

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Cientistas afirmam que estas células podem influenciar em nosso relógio biológico. Foto: Shutterstock

Se você se sente diferente dependendo da estação do ano e pensa que é apenas por causa do clima mais frio ou mais quente, a ciência vai te contrariar um pouco. Um estudo provou que possuímos algumas células que atuam tanto no “modo verão” como no “modo inverno”, sendo esta a forma usada pelo nosso corpo para rastrear a passagem das estações do ano, como se fosse um “calendário químico”.

Em um artigo publicado recentemente na revista científica Current Biology, a equipe de pesquisadores afirma ter encontrado um grupo de milhares de células que podem existir tanto em “estado verão” como em “estado inverno”. Assim, em dias mais longos, as células mudariam para o “modo verão” e fariam o oposto quando passa a anoitecer mais cedo.

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O corpo e as estações do ano

De acordo com os pesquisadores, esse relógio anual determinaria quando animais procriam e hibernam e, em humanos, pode alterar o relógio biológico. As descobertas foram feitas por equipes das universidades de Manchester e Edimburgo, no Reino Unido, enquanto analisavam os cérebros de ovelhas em diferentes épocas do ano.

Foi encontrado um grupo de 17 mil “células-calendário” na glândula pituitária, que fica na base do cérebro e libera hormônios que controlam processos em todo o corpo. Os pesquisadores afirmam que as células têm um “sistema binário”, igual a um computador, e que podem existir em um dos dois estados, produzindo substâncias químicas de “inverno” ou de “verão”, de acordo com a estação do ano.

O estudo mostrou ainda que a proporção de “células-calendário” muda o ano todo, marcando assim a passagem do tempo. “Aparentemente, há um curto período do ano, no meio do inverno e no meio do verão, em que elas estão todas em um estado ou em outro”, afirmou Andrew Loudon, professor da Universidade de Manchester.

Outono e primavera

Os cientistas afirmam que ainda não foi possível compreender como o corpo sabe quando é primavera ou outono, uma vez que nestes períodos as “células-calendário” estão divididas, algumas no “modo verão” e outras no “modo inverno”. Esta espécie de relógio anual, que ficou conhecido como ‘ritmo circanual’, é semelhante ao ritmo circadiano (diário), que contribui para nos manter acordados na hora certa.

De acordo com os cientistas, o padrão anual é usado para marcar o início dos períodos de migração, hibernação e acasalamento, além de explicar por que os cordeiros nascem na primavera. Vale lembrar que tanto o relógio biológico diário como o anual são controlados pela luz.

Isso pode ser provado pelo fato de que o hormônio do sono, a melatonina, tem maior produção no inverno, período no qual os dias são mais escuros. “Nós sabemos há algum tempo que a melatonina é importante para esses ritmos de longo prazo, mas como e onde isso funciona não ficou claro até agora”, afirma Loudon.

Outros seres vivos

Os cientistas afirmam que este processo não acontece apenas nos animais. “O relógio sazonal encontrado nas ovelhas provavelmente é o mesmo em todos os vertebrados, ou ao menos contém as mesmas partes”, ressalta Dave Burt, professor da Universidade de Edimburgo, lembrando que “o próximo passo é entender como nossas células marcam a passagem do tempo”.

De acordo com os pesquisadores, ainda que os seres humanos não tenham um período de acasalamento definido como os demais animais, há sinais de que ainda somos influenciados pelas estações do ano. Outro estudo realizado no início deste ano pela Universidade de Cambridge, que foi publicado na revista científica Nature Communications, provou que os genes humanos relacionados com a imunidade ficam mais ativos no frio.

Esses genes podem ajudar a combater vírus como o da gripe, mas, ao mesmo tempo, tornar problemas como a artrite, por exemplo, piores, concluem os cientistas.