Em meio a toda a discussão que existe entre as pessoas que defendem a luta das mulheres por direitos iguais e das que acreditam que as coisas devem continuar como estão, surge mais uma voz, literalmente, para dar um toque de bom humor na chamada luta contra o machismo. Vem sendo bastante compartilhada nas redes sociais uma música “A Louca”, feita pela estudante do sexto período de jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina, Manuela Tecchio. Entendemos como uma ótima oportunidade para abrir este debate também aqui no O Masculino.
A catarinense de 20 anos, que mostrou ter talento para a música e ideias bem claras da importância desta luta, conversou com a gente sobre o tema. Manuela, que é integrante do Coletivo Jornalismo Sem Machismo, trata de maneira bem humorada o assunto. Veja abaixo a entrevista, ouça a música e não perca a oportunidade de dar a sua opinião!
Música e bom humor conta o machismo
Primeiramente, gostaria que você contasse um pouco mais sobre o que é o coletivo Jornalismo sem Machismo e as principais ações que ele desenvolve.
O Coletivo Jornalismo sem Machismo é um grupo de mulheres que se reuniu após notar uma série de situações machistas pelas quais as estudantes de jornalismo/jornalistas passam. O Centro Acadêmico tinha marcado uma reunião para as estudantes “desabafarem” e o resultado foi impressionante. Todo mundo tinha uma história pra contar, por isso decidimos que iriamos criar o Coletivo.
O Coletivo tem a função de proteger as meninas de situações machistas que acontecem dentro do curso. Por meio de ofícios, diálogos com a coordenação do curso… o meio que for necessário. É uma organização à qual podemos recorrer.
Ultimamente temos feito algumas festas, e outras ações para arrecadar dinheiro. O objetivo é trazer palestrantes mulheres para a Semana do Jornalismo, que normalmente só tem palestrantes homens. Coisas assim. Vamos agindo de acordo com a necessidade.
Em uma declaração recente você afirmou que se descobriu feminista após começar a participar do coletivo. Mas, você conseguiria dizer quando foi que o machismo e as desigualdades de gênero começaram realmente a te incomodar?
Desde sempre. Desde muito nova eu me irritava muito com as coisas que “eu não podia fazer”, sabe? Jogar futebol era uma delas (hahaha!). Eu achava aquilo tudo muito injusto, e tentava contra argumentar na medida do possível. Mas a gente acaba aceitando né? Até a gente descobrir a própria força, saber que não está sozinha, acaba baixando a cabeça, dizendo amém.
A música foi inspirada em uma conversa entre você e suas amigas após a reunião do coletivo. Você acredita que ela possa fortalecer a luta de vocês contra o machismo e inspirar outras pessoas também a se questionarem sobre este machismo velado do dia a dia?
Olha, eu espero que sim (hahaha!). Falar sobre isso já é um grande começo, sabe? Quando eu postei a música, pensei que fosse ser mais uma piada entre amigas, não imaginei que fosse ter tanta repercussão. As pessoas começarem a debater isso partindo da música já foi mágico. É pra isso mesmo: pra se tocar como o machismo é tosco.
Na música você conta a história do ponto de vista do homem machista, que questiona as atitudes da mulher como se fosse ‘o dono’ dela. O que você pode perceber na reação dos homens (amigos, parentes e desconhecidos) ao ouvir a sua música? Era o esperado ou você se surpreendeu?
Tem de tudo né? Alguns homens me surpreenderam muito. Meu pai mesmo, por exemplo. Ele adotou uma postura de reflexão que nunca tinha tido antes com relação ao tema do feminismo. Meus amigos músicos, quase todos, me apoiaram. Foi uma boa surpresa, porque o mundo da música é muito machista ainda. Mas claro que sempre tem quem zomba, quem faz piada, quem acha que feminismo é “falta de mandioca”. Não é. O feminismo é legítima defesa.
Ouça a música aqui:
É possível traçar um panorama sobre a atual situação da luta das mulheres pelo reconhecimento de seus direitos no Brasil?
Olha, acho que eu não tenho autoridade pra dizer isso, mas… Eu vejo uma movimentação maior. Esses dias eu vi uma moça que postou um vídeo depois de ser agredida pelo marido. Poxa! Isso é magnífico, sabe? As mulheres estão tendo coragem de colocar a boca no trombone, jogar a bosta no ventilador, entende? Mostrar que machismo existe sim! Que tá em cada parte da nossa vida. A internet ajuda muito nisso. E acho que no Brasil essa é uma tendência sim.
O meio acadêmico, teoricamente, deveria ser um lugar de pessoas com a ‘mente mais aberta’, que conseguem enxergar as coisas de uma maneira mais sensata, onde o machismo não teria tanto espaço. Como você vê esta situação hoje e o que precisa mudar?
Bom, o meio acadêmico disfarça muitas coisas né? Como são pessoas ditas “ilustradas”, elas podem tudo né? Aí usam de teorias e mais teorias que são super racistas, machistas ou homofóbicas pra se justificarem. Falo de professores, de alunos, de todo mundo. As pessoas começaram a justificar seus preconceitos travestindo-os de “opinião”. Dentro da própria esquerda, que teoricamente deveria lutar pelas minorias, existe muito machismo, muito racismo, muita homofobia. E a desculpa que a gente ouve é que “resolvendo a questão de classes, a gente resolve tudo”. Meus queridos, o machismo existe antes da moeda. Então não venha secundarizar nossas pautas, decidir o que merece ou não ser discutido. Queremos ser ouvidas.
Agora que você vem se tornando conhecida pela canção, que continua sendo muito compartilhada nas redes sociais, você já pensa em outras que também tragam esta bandeira ou mesmo outras empunhadas pelo coletivo?
Não. A música foi uma obra e está acabada. Eu gosto muito de compor, me considero musicista. Mas não quero transformar a minha arte em bandeira de campanha, sabe? Quero fazer outras coisas, explorar outros assuntos. Mas na medida do possível, quando surgir inspiração ou necessidade, nada impede que eu volte a abordar o tema. Mas definitivamente não é um projeto.
Você pensa em seguir a carreira de cantora?
Penso. Mas não é uma carreira fácil, né? Sempre tentei conciliar com outras coisas. Na medida em que as oportunidades surgem, eu vou aproveitando. Quem sabe chegue o dia tão esperado em que eu diga: ok, hora de me colocar inteira nesse mundo.
Quer deixar algum recado para o público do nosso site?
Galera, machismo não tá com nada (hahaha!).